Tem dias que rezo pra que o tempo lá fora esteja de acordo com meus sentimentos. E na maioria das vezes em que quero que eles combinem, são os dias tristes, melancólicos, aqueles em que o coração está nublado, feio, cinzento, carregado. Fico na expectativa que venha a chuva, aquela que começa de mansinho, e vem, cada vez mais forte, e fica assim, caindo por muito tempo. Sinto-me um pouco melhor e sei o motivo dessa cumplicidade: tristeza e chuva. Preciso dela, pois ela é meu coração, mais ainda, minha alma que chora. São os sentimentos trancados, aqueles que nem compreendo bem, talvez desconheça, ou aqueles superficiais, que todo mundo tem no dia que acordou de mal com a vida, mas estão lá e de alguma forma eles incomodam e você não sabe o que tem, só que está triste e que você não consegue chorar. Quando a primeira gota cai, o ritmo do coração já acelera, algo acontece lá dentro, fico torcendo pra que continue, sim, essa tempestade só vem mostrar o que não consigo transparecer.
Então fico ali imóvel, vendo bem na minha frente, a tristeza, em forma de gotas transparentes, escorrer pelo coração que não chora. Não é egoísmo dizer que, de certa forma, isso me reconforta. Ouço o som da chuva e sinto que essa combinação me conforta, acalma e abraça minha solidão.